
O Filme narra a trajetória
de pessoas, aparentemente sem ligação nenhuma, que dada as vicissitudes
do dia a dia, demonstram sua intolerância, medo, raiva e prepotência. Que levam através desta ação, a reações violentas de indignação
provocadas pelo desamparo, impotência, insegurança e também medo, destas
que por se sentirem desrespeitadas, não encontram alternativa senão a
de revidarem da mesma forma. Ou seja, cria-se um círculo vicioso de
violência. As minhas ações e atitudes tem ligação direta e indireta com
as ações e atitudes do outro.
Mas
em meio a isto, havia uma família, que embora também sofressem as
mesmas violências, não pareciam reagir a isto de forma violenta. Como se
o diretor quisesse dizer “ vejam, é possível fazer diferente”. Mas a
capa protetora dada a filha ao completar 5 anos, que protegia o pai até
então, não o protegia apenas das “balas perdidas” da vida, mas da
violência cotidiana. Parecia, com isso, fazê-lo reagir às agressões
sofridas de uma forma mais equilibrada, já que absorvia os efeitos
impactantes das injustiças e preconceitos raciais. Como no caso em que
ele (o pai) estava trocando a fechadura da porta da casa da mulher que acabara
de ser assaltada ou na hora em que estava consertando a fechadura da
loja da família persa. Sim, ele pode ter agido certo, ficou em silêncio
em uma situação e não cobrou pelos serviços prestados em outra. Mas isso
não o protegeu de uma ação extremada do dono da loja que transtornado
pelo roubo de sua loja e depois de constatar que não seria indenizado
pelo seguro, resolveu, num ato insano, que o chaveiro, pai da menina, deveria pagar por
tudo o que até ali havia sofrido. Descarregou toda a sua indignação,
raiva e impotência, naquele que para ele era o culpado por ter sido
roubado, mas muito além, seria o bode expiatório, seria aquele que
pagaria por todos aqueles que o insultavam.
A capa era também a metáfora da indiferença, da entorpecência, da
couraça que se forma em torno de nós para nos proteger destes ataques
diários e nos transforma em pessoas presas e voltadas para dentro de si
completamente anestesiadas.
No início do filme a voz do ator chama
atenção para esta indiferença, para esta entorpecência, numa cidade em
que as pessoas se esbarram buscando algum contato numa tentativa de
buscar alguma compreensão, de carinho, de troca, de atenção, de amor,
de solidariedade. E termina com um carro em chamas, o mesmo carro que a
pouco havia sido palco de um assassinato, era agora servido de fogueira
para aquecer aos necessitados de calor, que estavam ali naquele momento
sob frio da neve que começava a cair. Mas não era apenas o calor físico
que buscavam, o carro era também a metáfora para a falta de calor
humano, era a metáfora da redenção. Parecia nos dizer que era tempo de
mudança, que não podemos mais agir dessa maneira, é tempo de nos
redimirmos e de derreter a neve da intolerância, da violência e do
racismo que cai sobre nós.
O
filme narra de forma extremada, mas bastante verossímil, uma cadeia de
acontecimentos que pode parecer fantasioso e pessimista, mas que
infelizmente faz parte do nosso cotidiano. Ele é ambientado em Los
Angelis nos EUA, mas poderia estar situado em qualquer lugar do mundo,
dada a sua abrangência comum, ou seja, a falta de solidariedade vivida
por todos nós diariamente e a forma como somos intolerantes com nossas
próprias fraquezas. Se compreendêssemos mais os nossos próprios limites e
nossas fraquezas, compreenderíamos os limites e as fraquezas dos outros
e seríamos mais tolerantes conosco e com o próximo. A redenção pode
começar a partir dessa atitude, nada simples, mas esperançosa.
por Nilo dos Anjos
16 de maio de 2008